quinta-feira, 2 de junho de 2011

A agulha de bordar

A jovem mãe estava sentada no quarto do bebê quando sentiu a bolsa estourar e as contrações começarem. Dizem que dói muito, mas ninguém lhe avisara que doía tanto assim; era (?!) como se ela tentasse passar um grosso fio de barbante por uma delicada agulha de bordar. Temeu que suas ancas se partissem e pusessem a criança em risco. Respire fundo, ela repetia tentando acalmar-se, respire que logo passa, mas a sensação nunca cessava. E quando Maria pensava no local onde deixara sua bolsa (celular, celular, celular!), o pequeno Felipe deu o ar de sua graça. O barbante havia desfiado bastante, diga-se, mas fio a fio ele passara pela agulha de bordar.

Maria olhou para aquele minúsculo ser que implorava seu carinho. Notou as formas todas pequenas e delicadas, os pêlos sutis em sua cabeça; o olhar ciumento e angelical que o jovem Felipe lhe dirigia era por si só o bastante, mas ele era todo um mimo só. Parece com o pai, pensou ela enquanto ajeitava-o numa manta. Maria perguntou-se se todo bebê nascia assim, com tanto sofrimento. Não. Sofrimento, não, que sua mãe (que Deus a tenha em seus braços!) lhe ensinou que na vida não existe sofrimento e ainda mais num nascimento. Felipe nascera apenas em uma hora imprópria. Ao pensar isso Maria perguntou-se se caso estivesse numa sala pálida e cercada de aparelhos brilhantes e engraçados seria diferente. Antônio, o pai, até tentara interná-la num dos hospitais da cidade grande mas a verdade era que Maria queria ficar em casa, não com aqueles doutores de caretas engraçadas e jalecos austeros.

Nããããããão! isso é coisa de gente boba, ela dissera, mulher da minha família nasce para parir filho e sempre foi assim, ela riu da cara abismada do outro, comigo não vai dar nada errado! Ela no entanto, como já dito, não esperava que a dor (que dor...?) fosse tão... intensa? Não, não doera quase nada em comparação com quando quebrara os braços pulando da goiabeira. Como descrever uma dor que só se sente por dois gigantescamente extensos, tortuosos, inesquecíveis, explêndidos e maravilhosos segundos? Antônio chamaria de breve, mas 'breve' não bastava para Maria. Breve parecia nome de doce, não de sensação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Críticas construtivas são sempre bem vindas, bem como sugestões e elogios.