quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A Alegria

Mal passava o meio dia quando os pirralhos começaram a gritar.
De um lado os pais, sem nada compreender, do outro a alegria, do alto, a despertar.

Cada um recebeu um bilhete: cortesia aos garotos, para alegrar.
Os pais, sem demorar, puseram-nos todos para casa:
Vão se banhar!
Mais pareciam sapos imundos, todos a coachar em coro: Finalmente uma novidade,
algo para lembrar!

A noite caiu, estendendo-se sobre os campos
ao mesmo tempo em que o realengo se pôs a rodar.
Braços dados, sorriso dengoso. Quem conhecia o palhaço?

O show começou, o domador logo sacou o chicote e se foi.
As feras que ele combatia, todas dormindo.
O show parecia ruir, mas nem pensar em parar:
Estavam apenas começando.

Passava da madrugada quando um carro perdido em frente ao circo parou.
Trazia coisa valiosa, reluzente, e de muito louvor.
O domador desceu do trailer, sem muito entender
se aproximou, sem acreditar:
Sim, o Circo chegou!

A noite havia sido um fiasco
a platéia dormira
mas tudo vai mudar, ele disse,
e vai ser nessa noite!

Discurso inflamado, platéia pequena
somente um jovem casal, o escolhido.
Mãos delicadas, sorriso cheio de amor
assistia sem ver o que o domador fazia.

Demorou vários números para se ouvir.
De lá de fora, um sorriso devasso, fez tudo ruir.
Cantava um versinho pronto:

Eu sou a voz do amor
Eu sou o querer,
Venha, venham, venham todos para mim.
Eu tenho um presente para vocês!
Colhido em noite de luar:
Um coração amargo, amargo de doer.

Os dois se assustaram
Do lado de fora ouviram
uma sirene a soar
era o mundo,
pronto a se alegrar.

Alegria maldita!
Filha maldita a mergulhar na luxúria dos anjos.
E os humanos, todos nós,
a lhe idolatrar.


S. Blackmont