SoL

Symphony of Life


Sinopse: Para sempre ela irá esperá-lo.
Classificação indicativa: ( ) Livre (x) PG-15 ( ) PG-17
Shipper: Gale Hawthorne/PO.

Notas:
Coooooorre negads, vem aí spoiler de tudo quanto é livro.
Pode haver cena de sékissu, tem tortura e terror psicológico, mortes e tudo mais.
Uma coisa: os acontecimentos citados podem estar fora de ordem, porque eu não vou reler os três livros só pra corrigir isso.



capítulo 1,

_______Fracasso. Por trás de cada palavra polida, cada floreio quase musical, era esse o resumo de cada um dos relatórios que Kaya escrevia diariamente ao presidente Snow sobre o garoto Mellark. Ela os escrevia com a maestria de quem tem anos de prática em medir suas palavras, pois sabia que uma palavra errada e estaria morta antes de conseguir dizer Tracker Jacker. Porém, a cada relatório que entregava a loira podia ver que Snow não parecia nenhum pouco decepcionado ou qualquer outro sentimento correlato. Na verdade, ela podia identificar um levíssimo sorriso em seus lábios disformes.
_______Após o mais recente, escrito com uma mão um pouco mais pesada, Snow mandou chamá-la. Ele estava naquele jardim, sentado num banco, olhando o horizonte cinza-chumbo do Capitol. Quando Kaya entrou, uma alegria mórbida lançou-se entre os dois. - Kaya Coleen Blackmont, ele disse, meio divertido e fez menção para que os dois pacificadores que a acompanhavam se retirassem, então se levantou. Ela podia jurar que seria morta ali mesmo por conta de sua falta de tato no relatório, mas isso não aconteceu.

_______- Você tem uma carreira muito prestigiosa para alguém tão jovem, senhorita Blackmont, ele disse. Kaya ficou um momento sem compreender o que ele queria dizer com aquilo, então assentiu sem saber muito o que esperar. - Tenho certeza que não chegou ao posto onde está sendo ingênua como os outros.
_______- Trabalhei duro para cada posição, senhor presidente, ela respondeu com cuidado.
_______- Oh sim, tenho certeza disso, mas o que quero dizer é que a senhorita não é tão ingênua quanto seus relatórios o fazem crer, ele completou, indicando um caminho por entre as sebes e os dois começaram a caminhar. Ela pensou: então é assim que acaba? Um corpo perdido entre as rosas?, o cheiro era insuportavelmente doce e ela tinha experiência com venenos, sabia que podiam ser tão venenosas quanto belas aquelas rosas.
_______- Não entendo o que o senhor quer dizer.
_______- Oh, não me decepcione, senhorita. Ambos sabemos que o garoto não possui qualquer informação útil, você mesma diz isso relatório após relatório, ele fez uma pausa, desfrutando do cheiro nauseante do jardim - Me diga, porquê acha que estamos fazendo isso com o garoto?
_______Ela tinha suas teorias, mas nenhuma parecia justificar aquela insanidade, mesmo Snow sendo do tipo que nunca age por impulso. Ela pensou por alguns momentos, realmente querendo descobrir a resposta, então esta caiu como uma tonelada em cima dela. Não era Peeta quem ela torturava. Quando chegou a essa conclusão, Snow sorriu e colheu uma das rosas, uma de tom arroxeado e com pequenos riscos brancos, e lhe entregou. Os espinhos perfuraram fundo em sua pele, mas ela não sentia, estava entorpecida demais com a macabra conclusão a que Snow a forçara a chegar.



capítulo 2,

_______Foram dois dias inteiros até que ela conseguisse remover o veneno não só daquela rosa, mas também das palavras de Snow. Agora, pensando com mais calma e analisando cada uma delas, a ameaça estava implícita desde quando ela pisou na mansão do presidente, tempos antes, quando fora convocada para uma 'missão especial' - era isso que os pacificadores lhe haviam dito. Desde a primeira investida, o assalto estava condenado ao fracasso e ela, à morte. No princípio Kaya acreditou que Peeta possuía informações retidas, mas logo na primeira conversa que teve com ele, na manhã anterior à primeira investida, ela de forma inconsciente soube que ele havia sido pego pelas circunstâncias.
_______Depois de uma semana dando instruções por telefone, ela pisou pela primeira vez n'A Cela, o prédio onde os sobreviventes do 3º Massacre Quaternário eram mantidos - seguros, quando na verdade, torturados - desde a quebra da arena. Embora todos a observassem por onde passou, ninguém a impediu de ir ao seu laboratório trabalhar com Peeta Mellark, mas ao invés de aplicar mais uma dose de veneno de Tracker Jacker, ela aplicou uma coisa grossa e azulada, com cheiro de sangue, no catéter do garoto. Pensou que já estava condenada, então lhe restava apenas tentar reparar um pouco do mal que havia causado.

_______Kaya tinha seus trinta anos e embora seu sotaque fosse claramente do Capitol, ela na verdade era filha do distrito 2, o distrito dos pacificadores. Ela própria havia sido uma das pacificadoras chefes, até Seneca Crane visitar o seu distrito em busca de 'novos brinquedos' para a arena. Ela lhe mostrara tudo o que tinha e como ele não se mostrasse muito impressionado, lhe mostrou o que chamou de 'assalto'.
_______- Chamei-o assim porque ele literalmente rouba suas lembranças, trocando-as por versões distorcidas. Primeiro confusão, ela apontou para um grupo de macacos tendo espasmos pelo corpo, sem entretando, reagir. - Depois da confusão é quando sabemos se fomos bem sucedidos ou não, porque é quando é possível ver até que ponto o veneno conseguiu se infiltrar. É também quando grande parte morre. Se eles sobrevivem a isso, vem a aceitação. Eles aceitam a lembrança que impusemos e passam a reagir da forma que queremos quando confrontados.
_______E Seneca tinha os olhos brilhando, bem como a toda a sua equipe. Mais rápido possível Kaya estava enfiada num laboratório de última tecnologia, a serviço da ciência para o Capitol. Mais de cem cidadãos considerados traidores pereceram pelas suas mãos, mas ela tinha ordens claras de seguir em frente. Quando finalmente conseguiu dominar uma das experiências - era uma jovem mulher, cerca de quarenta anos, alta e bonita, claramente poderosa - ela viu também o que aquilo era capaz de fazer.
_______A mulher, chamada simplesmente de 104, tinha a mesma aparência do momento em que havia chegado À Cela, mas à menor menção de seu filho - lembrança tão amada e querida - tornava-se tão incontrolável que cinco pacificadores a seguravam apenas o bastante para que Kaya pudesse aplicar-lhe sedativo. Quando viu, Snow decidiu que era bom demais para ser usado nos Hunger Games e fez Kaya assinar um contrato de sigilo. Se ela fizesse qualquer menção sobre isso com alguém que não fizesse parte do pequeno grupo deles, sua sentença seria a mesma que a da experiência 104.

_______Isso havia sido há quatro anos e ela se amaldiçoou milhares de vezes por não ter pensado em um antídoto para o assalto, mas pensando um pouco, chegou à conclusão de que não haveria, porque não era o veneno no corpo que causava as distorções. O veneno era como uma espécie de chave que abria a fechadura da parte emocional do cérebro: Kaya entrava lá e com alguma criatividade, criava um roteiro para substituir cada uma das lembranças de certo objeto e substituía as antigas pelas suas. Depois que o veneno saía do corpo, se a experiência sobrevivesse seria impossível mudar de novo. Era traumatizante demais, doloroso demais, era morte certa.

_______A conversa com Snow e principalmente aquela maldita rosa roxa a fizeram trabalhar num antídoto para si mesma, algo que pudesse curar não só as feridas repugnantes que percorriam seu braço esquerdo inteiro, mas também algo que pudesse senão curar, ao menos impedir que Peeta morresse. Ela conseguiu uma pequena quantidade de algo que se assemelhava bastante com uma vacina, tendo sido ela própria a matriz das células que cultivara. Era o mínimo que poderia fazer.
_______Kaya, numa manobra bastante arriscada e certamente contra as regras, aplicou sua vacina por dois dias antes que Peeta fosse resgatado, cobrindo a bolsa com um saco escuro para esconder seu conteúdo azulado. Então Plutaco chegou com todo o pessoal para resgatá-lo. Ela estava trocando a bolsa quando eles apareceram e todo o prédio estava tomado - e a grande parte dos pacificadores habituais havia sumido.



capítulo 3,

_______- Onde está o garoto?, ele gritou, apontando a arma bem sobre seu coração.
_______- Não... ele, ele vai morrer, ela respondeu em sussurros lentos. Como o rapaz não fez menção de abandonar o garoto Mellark, Kaya pediu que o rapaz a seguisse para dentro de um cubículo de vidro blindado. Hesitante, Gale a seguiu e lá estava o filho do padeiro, inconsciente e pálido como os lençóis que o envolviam. Quando saiu do torpor, Kaya começou a preparar uma sacola com todo o suprimento da vacina, que já não passava de duas bolsas de 250ml, e Plutaco chegou.
_______- Ele foi assaltado, eu sei que você sabe o que é isso. Tome, leve isso. Não vai curá-lo, mas vai impedir que o veneno aja sobre ele por algum tempo, ela disse e entregou a sacola com as bolsas, esperando pelo tiro de misericórdia, mas ao invés disso Plutaco a puxou porta a fora e de repente, ela estava num aerobarco junto com os outros, parecendo a mais inteira deles, com destino ao distrito 13. A ideia a assustava.

_______Assim que chegaram, Kaya foi levada diretamente à presidente Coin. Podia tanto ser uma vantagem sobre o Capitol quanto uma ameaça, mas quando apresentou o estado de Peeta e disse que podia mantê-lo estável, embora não o curasse, foi-lhe concedido uma espécie de asilo político e todos passaram a tratá-la como um dos contatos dentro do Capitol, escondendo que havia sido ela quem conduzira o assalto.

_______Foram semanas assim, entre o hospital, onde Peeta estava sendo cuidado por uma equipe do 13, e o laboratório, que embora bom, não era muito melhor que um velho laboratório sucateado em comparação com o seu anterior. Ela fazia o que podia para reproduzir a vacina, mas o máximo que conseguiu foi uma coisa aguada, apenas um pouco mais forte que uma boa dose de morfina, e não era disso que ele precisava. Alguém deu a ideia de que a vacina pudesse ter impedido que o veneno chegasse às primeiras lembranças, o que ela não pôde precisar nem que sim nem que não, então Delly Cartwright foi chamada e ajudou da melhor forma possível.
_______Um dia, ela se preparava para ir à superfície coletar aquelas folhas que a Mockingjay havia usado nos 74º jogos - e eram o que ela podia de mais forte, tendo falhado em todas as tentativas de reproduzir a vacina. Devia ser final da tarde e ela era uma das poucas pessoas que estavam autorizadas a furar sua agenda - na verdade, Kaya não tinha uma realmente. Ela acordava no cubículo ao qual fora designada e passava o dia inteiro em seu laboratório, às vezes não voltando para dormir ou só voltando quando a manhã já havia nascido. Ninguém se importava muito desde que ela fizesse o que podia para manter o garoto vivo.
_______Quando ela, depois de alguma dificuldade para encontrar as ditas folhas, abaixou-se para coletá-las, uma flecha passou próxima demais de seu pescoço e por muito pouco ela desviou. Gale logo apareceu, carregando um saco com alguma caça.
_______- Tentando fugir de volta para o Capitol, doutora?, ele disse, imitando de forma grotesca o sotaque de Kaya. Ela não se intimidou.
_______- Prazer em vê-lo também, soldado Hawthorne, ela disse com ironia enquanto arrancava as folhas. Os dois não haviam se falado desde aquele dia e não havia muito o que pudessem falar, mas Gale indicou outros lugares aonde ela encontraria daquele arbusto. Nenhum dos dois se falou, senão pequenos sinais e monossílabos. Já perto da entrada, Kaya sussurrou um agradecimento antes de sumir no labirinto que era o distrito 13. Seus olhos, Gale reparou, não eram como qualquer um que ele já houvesse visto: eram roxos. Não de um lilás rosado, mas de um roxo profundo, com pequenos pontos brancos. Ele se perguntou se eles não seriam resultado de uma cirurgia e se fossem, o porquê de ela tê-los feito assim.


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