Passando na rua, um louco perguntou: Já reparou? - o são o ignora, somente um semelhante é capaz de ver a beleza que se esconde nas frestas da pergunta. Mas quem pára não é louco... quem pára é apenas curioso. O louco até se surpreende, mas logo se recupera; passa o braço aos ombros do outro e como quem discute o segredo do universo, fala inspirado e ignorante de todos que observam a cena.
- Repara que toda a gente... que toda a gente de todo o lugar, tem quase nada ou muito pouco a ver com seus conhecidos? - ele era do tipo hilário, que muito raramente tira da cara o sorriso ou que se veste de luto. Falava exaltado, sem entretanto gritar; gesticulava, sorria... e curioso, ao lado, de pouco em pouco o reconhecia.
- MAS É O BORGES! - de repente exclamou. O tal Borges era companheiro de noitadas do curioso, havia desaparecido há algum tempo, mas todos achavam que era tal onda de casório que o havia enfim atingido. Estavam errados. Era que o Borges havia se apaixonado, mas não era por uma mulher - nem por um homem, vale ressaltar. Ao menos, não no sentido romântico.
Certa vez estava o tal Borges voltando para casa numa madrugada depois de uma festança braba. Tinha ressaca, um litro de vodka e uma mulher, mas não podia encontrar as malditas das chaves do Corsa branco! Sentou-se no meio fio e sequer notou o abandono da doce dama que o acompanhava, em igual estado. Ela logo arranjou companhia. Mas o Borges, não.
Não se sabe muito bem se foi reação da vodka no organismo, se foi sereno da noite ou quentura do amanhecer... o fato é que desde aquele dia, ele nunca mais apareceu. Não foi ao trabalho, nem no enterro da tia, não foi visitar a irmã, nem pediu em namoro a vizinha. Não dormiu nem tornou a dirigir. O fato... ah... o fat-
- Repara que toda a gente... que toda a gente de todo o lugar, tem quase nada ou muito pouco a ver com seus conhecidos? - ele era do tipo hilário, que muito raramente tira da cara o sorriso ou que se veste de luto. Falava exaltado, sem entretanto gritar; gesticulava, sorria... e curioso, ao lado, de pouco em pouco o reconhecia.
- MAS É O BORGES! - de repente exclamou. O tal Borges era companheiro de noitadas do curioso, havia desaparecido há algum tempo, mas todos achavam que era tal onda de casório que o havia enfim atingido. Estavam errados. Era que o Borges havia se apaixonado, mas não era por uma mulher - nem por um homem, vale ressaltar. Ao menos, não no sentido romântico.
Certa vez estava o tal Borges voltando para casa numa madrugada depois de uma festança braba. Tinha ressaca, um litro de vodka e uma mulher, mas não podia encontrar as malditas das chaves do Corsa branco! Sentou-se no meio fio e sequer notou o abandono da doce dama que o acompanhava, em igual estado. Ela logo arranjou companhia. Mas o Borges, não.
Não se sabe muito bem se foi reação da vodka no organismo, se foi sereno da noite ou quentura do amanhecer... o fato é que desde aquele dia, ele nunca mais apareceu. Não foi ao trabalho, nem no enterro da tia, não foi visitar a irmã, nem pediu em namoro a vizinha. Não dormiu nem tornou a dirigir. O fato... ah... o fat-
Só posso definir esse texto como encantador. Você foi de tal maneira construindo os personagens e todo o ano de fundo, com uma pacata sinceridade insistente, realmente deveras envolvente.
ResponderExcluirGostei muito!
que bom que gostou! obrigada pelo comentário *-*
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