sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ensaio sobre a Mediocridade Humana

A vida é uma peça de teatro. Quantas vezes você já não ouviu essa expressão, não é mesmo? Ou: "A vida é uma caixinha de surpresas", quase tão comum quanto. Mas, não, nenhuma das metáforas é a correta, pois senão a peça da vida seria das tediosas a sua rainha. Não temos grandes heróis ou perigos intensos e nem sempre encontraríamos sentido em nossas falas e ações; nossos personagens seriam (ou são?) solenemente ignorados pelo grande público.
Nenhum grande escritor jamais escreveu uma simples crônica sobre a vida de um estranho num ônibus. Ninguém quer ler sobre isso, não! As pessoas já vivem isso em cada dia de suas rotinas, elas não 'quer' [sic] saber mais sobre o João da esquina por terem medo de se interessar mais por ele e, algumas vezes, por si mesmas.

Ora, vivemos na era da globalização! Quem ligaria para um pequeno relato sobre uma revolução no tricô? Talvez, nem mesmo a pessoa responsável pela tal revolução, afinal, perto de um desastre global, qual a importância de uma mísera laçada posta por acaso, à direita e não à esquerda? Aposto que até mesmo você ai, que lê esse texto, se pergunta o motivo de tão desprezível comparação.

Todos os dias são lançadas várias e várias toneladas de lixo literário no mercado. Alguns fazem sucesso pela narrativa envolvente, alguns pelos grandes feitos heróicos retratados, alguns pela simples fama obtida anteriormente por quaisquer meios. Mas, invariavelmente, nenhum livro faz sucesso pela sua simplicidade tanto de enredo quanto de personagens. Nenhum. Como já disse, a vida cotidiana não é uma epopéia e nem vende nada, e, quando uma coisa não vende num mundo globalizado, ela é considerada lixo. Agora eu pergunto: qual a vital diferença entre lixo literário e lixo globalizado?

Ser criativo hoje em dia é algo extremamente complicado de se lidar. Primeiro por que uma vez tendo tantos gênios passado por nós, que resta a nós, meros mortais, senão segui-los? Abençoados sejam os poucos cegos, surdos, mudos e intocáveis que desconhecem o fluxo da maré, pois deles será o futuro. Entretanto, eles são tão poucos e são tão isolados, enclausurados na sua santa ignorância que não podem ver nem ouvir uns aos outros, de forma que, desconhecendo seus respectivos e pessoais potenciais, acabam perdendo-se na Essência do descobrir. São eles os verdadeiros gênios, mas são tão pequenos, coitados. Os mestres os esmagam como vermes com seus discursos regados de perfeita oratória e eles, sem saber da sua singela beleza, recolhem-se em si mesmos, ignorando que do ovo sairá um novo ser.
Não importa para ninguém a sua dor, não mesmo, e é por isso mesmo que só serão lembrados à Morte, quando a casca do ovo se quebrar e abalar toda a constituição da humanização. E só então o mundo conhecerá seus verdadeiros mestres, mas eu pergunto: se são eles tão pequenos e raros, e sendo eles fechados em si mesmos ante a multidão dos devotos, quem os glorificará após a vida? Nunca se sabe, o João da esquina, ignorando, poderia ter sido o maior de todos os mestres dos mestres, mas nunca terá seu esforço reconhecido, porque, na sua simplicidade ele soube captar a essência do lixo globalizado.

Reflitam: valeria mais a um João um lixo globalizado ou um lixo literário? Essa resposta é pessoal e intransferível. E favor assinar a lista de presença após o término, afinal, talvez entre nós haja um João, no fim.

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