domingo, 3 de abril de 2011

Tempestade (SS/HG)

Está escuro, vejo somente o luzir das grossas gotas de chuva forrarem o chão, criando um tapete de lágrimas angelicais.
O Silêncio é tão profundo que ecoa em minha mente, dando a impressão de que estou presa, mesmo sabendo que não estou.

Um trovão, o som ofusca o das lágrimas, criando uma sinfonia melancólica.

Ao longe posso ouvir o farfalhar das árvores sob o constante contato com as correntes de água e de ar. Ouço passos ecoando nesse Silêncio, causando-me medo e apreensão. Sigo em direção contrária à que os ouço o mais silenciosamente possível, procurando não expor minha presença ao meu invasor.

Agora meus cabelos, já muito molhados pela chuva, são levados pelo forte vento que anuncia uma tempestade, de raios ou de lembranças, eu não sei. Meus pés descalços tateiam o solo em busca de apoio, mas nada encontrei, apenas os restos férteis de folhas e lama.

Outro trovão, assusto-me com seu som, o vento começa a ficar ainda mais forte, aumentando o barulho proveniente das árvores. Apresso meus passos ainda à procura de algum lugar para ficar até o fim dessa tempestade, não encontro nada.

Sinto o cheiro de maresia; cheiro de ferrugem e sal. Ouço os passos se aproximando, rasgando as folhas sob seus pés, apresso ainda mais os meus.

Perguntas afloram em minha garganta e sinto vontade de gritar, então paro e me viro. Posso ver agora quem me seguiu.

As íris tão negras parcialmente escondidas por uma máscara reluzente. Não sinto mais medo, apenas vontade de me atirar em seus braços, pois sei que ele está aqui para me salvar.

Mas não consigo, sinto meu corpo cair e o chão desaparecer, eu me permiti cair para não sofrer nas mãos dele.
Meu corpo afundando na água tão escura quanto tudo ali, a última coisa que vi foi um relâmpago, iluminando sua face carregada, em seus olhos a desilusão de me perder.


Alguns meses depois...


O telefone toca em Spinner's End, um homem vestido de luto atende - Encontramos um corpo, precisamos que venha fazer o reconhecimento - uma lágrima solitária caiu de suas pálpebras e ele colocou o telefone no gancho.


Horas depois...


Snape estava de frente à um caixão de madeira escura, ornamentado com flores disformes ao longo de si. Ele não chorou...

Ele não queria sair dali, queria ele estar no lugar dela. A passos indecisos ele avançou para o caixão, deixando uma rosa sobre ele, em seguida saiu.

Sem rumo nem destino à seguir.

Na lápide jazia:


Hermione Granger Snape

Nascimento: 19/09/1979
Óbito: 31/01/2005

"...Mas, quando agora atrás
dele tudo se fecha, são jardins
outra vez, e os dezesseis sabres
redondos que sobre ele saltam,
raio sobre raio, são uma festa..."


Maria Rilke, Rainer

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