domingo, 3 de abril de 2011

An Angel (SS/HG)

Os olhos negros corriam de rosto em rosto, mas buscavam apenas um par de olhos castanho-escuros, que ele sabia que nunca mais poderia ver ou tocar.

Suas relações eram puramente sexuais, apenas por prazer e necessidade. As diversas mulheres que passaram por seu leito eram pagas para fazê-lo, e muitas ele tinha certeza que nunca mais o veriam.
As noites notórias de ressaca eram apenas interrompidas pelos chamados do Lord das Trevas, aos quais ele deveria comparecer com rapidez. Sempre imaginara se poderia ser amado por alguém que não o visse como um Comensal, mas sim como o homem que ele poderia ser.


Severus continuou a andar, sua vida se fora assim que a de Sophie deixara seu corpo. O que mais lhe magoava era o fato de que ela morrera em seus braços sem que ele pudesse fazer qualquer coisa. Não havia tempo para preparar uma poção ou para realizar um feitiço para fechar os ferimentos. Foi a primeira vez que Snape chorou.

Agora ele não se permitia mais viver, buscando a todo custo a morte. A princípio foram meses vagando sem descanso pelos terrenos de Hogwarts, somente uma pessoa sabia onde estava e como estava. Hermione Granger fora a única que não o condenara por não impedir a morte da esposa, ajudando-o sempre que o via com roupas e comida, mas Severus não queria depender da ajuda de alguém por isso decidira deixar Hogwarts definitivamente.

No dia em que decidira ir embora ele fora onde Hermione e ele sempre se encontravam: A Casa dos Gritos, de onde não possuía boas lembranças desde os anos em que era aluno em Hogwarts, quando Sírius armara uma armadilha para que Lupin o ferisse. Mas agora era aquele o único lugar onde poderia ir sem ser perturbado por alunos ou mesmo professores, exceto a Srta. Granger.

No fundo ele queria provar para sim mesmo de que ainda havia alguém que lhe dedicava atenção e cuidados, gostaria de despedir-se dela como sinal de gratidão e também para lembra-se de Sophie nos olhos castanhos de Hermione.


Era madrugada quando Hermione foi à Casa dos Gritos. Já se acostumara a andar a noite em suas vigílias noturnas, ainda mais depois que descobrira que seu antigo professor vagava por ali há meses. Ajudava-o sempre que o via, já saia da escola com roupas e comida todos os dias, sempre na esperança de que ele a visse como mulher e não mais como aluna, mas ele nunca demonstrara nada além de um profundo respeito e alguma gratidão.

Severus se lembrava muito bem na causa da grande mancha de sangue no chão do segundo piso - Sophie... - suspirou cansado com a dor que ver seu sangue ali lhe causava. Queria poder ter tido a chance de salvá-la, mas isso também lhe fora privado: a vontade própria.

Quando Hermione chegou a casa e o viu à espera dela, sentiu que aquela seria sua última chance de dizer o que sentia por ele e suas verdadeiras intenções. Chegou a começar a dizer, mas não conseguira terminar de proferir as palavras, Severus se fora ao menor piscar de olhos. Deixando-a sozinha e chorando com medo de nunca mais vê-lo.


Agora já fazia meses que ele abandonara a Srta. Granger na Casa dos Gritos. Se sua visão do mundo mudara, ele não sabia. Apenas sentia que devia impedi-la de se deixar levar por ele, mesmo ele se implorando internamente para que ela o amasse Severus sabia que qualquer coisa que Hermione viesse a sentir por ele seria derivada do respeito com o qual ele a tratava. - Nada mais do que admiração pela figura masculina, nada mais.

Parou de andar por um momento, sentindo os olhos castanho-escuros de Sophie sobre si. Buscou-os em meio a multidão de rostos pálidos e macilentos, mas não os viu. Suspirou em sinal de desesperança e seguiu seu caminho, ainda buscando-a.




***


A jovem esposa e mãe olhava para fora pela janela de sua casa, imaginando que caminhos seu amor havia tomado, imaginando as noites em que ele pudesse ter adoecido, e sempre evitando a idéia de que ele pudesse não ter sobrevivido sem seus cuidados. Seria demais para uma mulher grávida, ainda mais quando o marido está sempre por perto, certificando-se de que Hermione estivesse segura e saudável.
Rony cuidara para que Hermione não tivesse nenhum esforço físico durante a gestação. Ela até já desconfiara se o marido zelava mais pela vida do bebê do que pela dela, apesar das desconfianças ele sempre desconversava, dizendo que era impressão dela.

Uma neblina encheu a rua com o ar frio de inverno, fazendo com que Hermione fosse se deitar.




***


Em outro país Severus Snape se sentava num banco de praça. As roupas não eram negras apenas por gosto, mas sim em demonstração do eterno luto que ele fazia em honra à Sophie.

Hoje se lembrava com pesar dos poucos momentos que passaram à sós, esperando sinceramente que ela engravidasse para manter a linhagem Snape sobre a Terra. Ainda não tinha certeza de que, se soubesse o fim da estória, a permitiria engravidar, não suportaria saber que sua esposa e filho - ou filha, lembrou-se, tivesse morrido com a mãe. Também não gostava da idéia de que pudesse criá-los sem a presença alegre de Sophie na família, nunca se imaginara nessa situação nem gostaria de vivê-la em qualquer momento. Já bastava a dor de perdê-la.

Viu crianças brincando com suas mães no parquinho próximo do banco, elas sorriam alegres com a simplicidade com que resolviam cada enigma com sorrisos e olhares vívidos. Viu ainda um garotinho dar algumas flores para a mãe, viu a surpresa com que ela reagiu e o abraço apertado que recebera do filho.

Nunca parara para perceber como a beleza pode estar nas coisas mais fáceis e simples da vida, nem tudo precisa ser caro e perfeito para ser belo.

Concentrou-se num livro que trazia sob as vestes - A menina que roubava livros.
Literatura trouxa não era a sua preferida, mas era o que dispunha para saciar a sede de conhecimento. Desde que chegara ao Brasil se concentrara em conseguir um emprego decente e manter-se sóbrio - o que não fizera muito bem nos últimos meses.

Enquanto seus olhos corriam pelas frases e páginas do livro uma criança se aproximou dele e ficou observando-o. Com a mesma perspicácia dos tempos de espião, Severus logo percebeu a companhia, mas resumiu-se em ignorá-la. O menino permaneceu calado todo o tempo, apenas observando Severus ler o livro e imaginando o motivo que o guiara a fazê-lo. Já era tarde quando Severus perguntou o que o menino desejava.
– Nada. - ele respondeu e continuou a fitá-lo. Um pouco incomodado com os olhos do garoto sobre si, ele perguntou sobre a mãe do menino.
– Não sei, mas algo me diz que você me procura.

Snape encarou longamente o garoto que correspondeu ao olhar com sinceridade. Reconheceu que se lembrava vagamente daquelas expressões em outro rosto, um rosto feminino. O espanto formou-se na face macilenta de Severus.

Nunca acreditara em reencarnação, mas a prova concreta estava diante de si. - Qual é o seu nome?
– Joseph. E o seu? - o menino perguntou com inocência, apesar de já saber o nome de Severus.
– Severus. - o menino assentiu e voltou seu olhar para as árvores que rodeavam o parque em que estavam. Em algumas horas iria anoitecer, mas Joseph não se importava com esse fato.

Severus continuou a olhar o menino, até que seguiu seu olhar até a outra extremidade do parque, onde Sophie lhe sorria. Um sorriso simples, porém marcante. Ele sentiu o cheiro de rosas e em seguida fechou os olhos para sentir melhor o perfume de sua amada, quando os abriu ela não estava mais lá e uma criança sorridente estava ao seu lado.




An angelface smiles to me
Under a headline of tragedy
That smile used to give me warm
Farewell - no words to say
Beside the cross on your grave
And those forever burning candles...



E suas noites eram regadas a sexo e álcool, sempre resultando em terríveis dores de cabeça e ressacas que eram terminadas com uma poção para dor e outra para concentração.

Os anos de espião custaram-lhe muitos machucados, tanto físicos quanto psicológicos. Lord Voldemort gostava de torturá-los até que implorassem por um fim breve, que nunca chegava. Aquele que já fora o mais brilhante aluno de Hogwarts se transformara em um ser sedento por poder.
Nunca se importando com regras ou costumes, sem limites nem qualquer traço de medo ou angústia. Criado como órfão, Tom Riddle havia conhecido a face da miséria e se prometera nunca mais sentir aquilo, fosse preciso fazer o que fosse.

Severus Snape fora apenas mais um dos iludidos pela ambição do Lord. Mas aos poucos conquistou prestígio entre os demais servos, sendo cada vez mais próximo ao Lord, conhecendo seu passado e suas fraquezas, destruindo-o com suas próprias armas, usando de seus próprios métodos. Ferro com ferro, fogo com fogo.

Até, que um dia conhecera Sophie, ainda como Aurora em Hogwarts. Ela cuidara para que as proteções da escola não ruíssem diante a ira de Lord Voldemort, mas, mesmo com seu talento nato e poder ela não conseguira grandes resultados. Fizera o que pudera enquanto bruxa, deixando uma memória pura para ser sempre lembrada aos alunos e principalmente para certo professor de Hogwarts.

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