sábado, 24 de dezembro de 2011

Memories (SS/HG)

Lembranças...


Cela 307, Azcaban
Atlântico Norte,
18 de setembro de 2004

Às vezes é preferível nem mesmo possuí-las, não é agradável prender-se à algo que mais cedo ou mais tarde será arrancado de você. Aqui, em Azkaban, você não pode dar-se o luxo de pensar, senão você descobre onde está e começa a enlouquecer.

Esse é o destino final dos servos ainda vivos do Lord, mas o que acontece aqui segue um rumo que nem nós mesmos não podemos prever. Tudo depende do que você pensa, do que fala e faz.


Quando posso sentir que algum dos dementadores se aproxima busco isolar toda e qualquer lembrança em que possa sorrir (apenas uma, nesse momento) ou mesmo aquelas dos meus anos de espião. Tudo que possa ser sugado de mim será usado por eles da forma mais cruel possível...

Aqui o tempo não passa, horas transformam-se em dias, que viram meses, que passam lentamente diante de seus olhos sem que possa tocá-los. À noite posso ouvir os gritos daqueles que não têm mais motivo algum para viver, que imploram por uma morte menos dolorosa.

Onde estou os prisioneiros ainda não chegaram a tal ponto, mas alguns, como Bella, não tardarão a alcançar a loucura completa. Eu prefiro guardar meus gritos para minha própria mente, enquanto busco uma forma de sair daqui.
Admito que invejo àqueles que têm uma vida "garantida" e ainda assim aventuram-se por locais nada apropriados. Nada é tão fácil assim na vida, e vê-los desperdiçando seus preciosos minutos em futilidades é revoltante.

Agora já é madrugada, é o pior momento para pessoas que ainda guardam segredos em suas mentes. Eles, à essa hora, podem sentir seus sonhos, percorre-los livremente e manipulá-los para que nunca tornemos a dormir, é como nos tempos marotos... Sempre perseguido, sempre na linha de fogo, sempre em perigo.

Creio que por hoje minha tortura será evitar lembrar de como é a textura de sua pele, de como sua pele é aveludada, de como senti-la em contato com minha pele é prazeroso.
Sim, eu a amo, definitivamente.

Talvez esse seja um dos meus últimos relatos, talvez sejam apenas palavras vazias, talvez você nem as mereça.
Gosto de escrever pensando que, numa chance remota, você possa um dia lê-las. Mas sei também, que é quase impossível que isso venha a acontecer...


S. Snape


Severus olhou para a carta escrita, já escrevera outras em diversas ocasiões, mas aquela lhe era diferente. Não relatava sua breve rotina diária ou os gritos que ouvia durante a noite e o impediam de dormir, ela simplesmente falava de algo que não lhe era comum. O amor.

De todas as experiências amorosas que passara durante sua vida, saíra machucado. Algumas feridas físicas também lhe eram uma lembrança constante de que estava fadado a viver sozinho, sendo companheiro da própria sorte.

Fechou os olhos, já não dormia a dias e estava cansado.

Pela primeira vez falhara num objetivo, iria render-se aos prazeres a tanto vetados, iria desejá-la em sã consciência. Era usado a tanto tempo que se acostumara à dor e à submissão, era apenas outro iludido por pensamentos revolucionários de alguém que também buscava a mesma coisa que ele, alguém que também sofrera muitas das quais ele havia sofrido.

Não, Lord Voldemort não era tão diferente dele quanto as pessoas costumam achar, a única coisa que os diferia era o arrependimento. Severus havia se arrependido por uma morte, Lord Voldemort, não.


* * *


Arrependimento...


Cela 307, Azcaban
Atlântico Norte,
20 de Setembro de 2004.

Talvez eu não o tenha, talvez nunca tenha tido.
Somente hoje eu sei - ou posso dizer que sei - o que sente uma alma arrependida.

São vários estágios de arrependimento. Os primeiros são tão brandos que você nem os percebe, só os vê quando já o tomam de completo.
Os mais avançados, em geral, são letais. Chega um ponto em que você sucumbe e decide que não vale mais à pena viver.

Tudo que mais gostaria era tê-la comigo. Sentir seu corpo junto ao meu, sua pele lisa e macia arrepiando-se ao meu toque... Ainda a desejo, sou consciente disso, ainda assim não me permito pensar nela, nem sequer dizer seu nome, algo proibido para mim.
Ela é tudo que tenho, se perdê-la morrerei, tenho certeza. Sei que, mesmo longe, ela ainda imagina meu destino, o que passo todos os dias resume-se a desejá-la.

Não, ela não é um objeto para mim, é mais que isso. A tenho como um desejo que tento em vão reprimir.

Ouço os gritos de Bella, provavelmente ela tem mais uma das já escassas memórias sugada. Ou então deve estar sendo transferida dessa ala.



* * *


Arrependo-me apenas de não ter dito o que queria da forma que queria. Desejei-a desde que a vi frágil como um cisne de cristal... Adorei-a quando a vi lutar.
Sim, Hermione era um misto perfeito de coragem e beleza, algo que fez com que eu a visse com olhos de humano, não somente de professor.

Sei que muitos me matariam por isso, mas é a verdade. Eu a amo.

Talvez seja apenas admiração, tudo bem, mas eu sei que ela é meu único motivo verdadeiramente importante para sobreviver às "visitas" constantes dos Dementadores. É por ela que eu não me permito fraquejar, é somente por ela...

Sei que em alguns dias será seu aniversário, e como eu gostaria de abraçar-lhe... Desejando muitos anos de vida, dizendo-lhe o amor que eu sinto por você...


S. Snape.

Snape olhou para a minúscula janela de sua cela. Lá fora o sol começava a nascer mais uma vez, e ele pedia para que Hermione, Sua Hermione estivesse bem e feliz.
– Mesmo que não comigo... - disse sussurrando, brigando com sua imensa vontade de sair dali e gritar para bruxos ou trouxas pudessem ouvi-lo.

Diria que a amava, que a desejava e que faria de tudo para que seu amor fosse correspondido. Faria mil (ou mais) loucuras para provar que era merecedor do contato com sua pele, do seu corpo e, principalmente, do seu amor.


* * *
Alguns dias depois...


Hermione estava sentada, as pernas junto ao peito e chorava quieta. Já tinha 25 anos de idade, mas ainda assim chorava feito criança.
Uma criança que teve seu brinquedo roubado.

As lágrimas corriam livremente pela face de pele lisa, chorava sem saber o motivo certo disso, só queria chorar.
Sentia que quanto mais lágrimas seus olhos vertessem, mais aliviada ela ficaria. Mas não era verdade. Quanto mais chorava, mais necessidade de chorar ela encontrava, e então o ciclo recomeçava.

Hoje era seu aniversário.
Na verdade, seu aniversário fora no dia anterior, visto que já era mais de meia noite.

Olhou para o céu, desejando apenas um presente. A imagem de seu carrancudo ex-professor a inundou, e novas lágrimas verteram dos olhos castanhos cor de mel.


* * *
Alguns anos depois...


Seu último suspiro fora naquela cela imunda.
Não queria admitir sequer a possibilidade de perder sua vida sem tocá-la mais uma vez, não o fez.

Não houveram muitas escolhas. Severus era mal alimentado, sua higiene era a mínima possível. A princípio parecia-se com uma gripe comum, um resfriado que logo, logo passaria.

Mas não passou.

E ele começou a sentir febre alta. Por vezes parecia que sua cabeça, literalmente, cozinhara. Seu corpo parecia moído e mal se mantinha de pé. Não pedira medi-bruxos; não avisara a ninguém do que se passava.

Até que num dos cada vez mais comuns acessos de tosse, ele identificou a doença que lhe afligia: Tuberculose, uma doença trouxa.
Sabia que ela era letal quando não tratada adequadamente, por isso preferiu assinar sua sentença de morte (lenta e dolorosa, diga-se).

Sua última carta fora datada do dia 24/09/2004.

Esperança...


Cela 307, Azcaban,
Atlântico Norte,
24 de setembro de 2004.

Talvez não mais a tenha. Hoje eu descobri que meu tempo já é escasso, não irei me opor à morte, até pelo contrário.

Sinto que conforme meus anos de espião se foram, minha vida também se fora. Como eu fazia com minhas vítimas, mas a elas não havia outro caminho senão a própria morte. Eu tentei ao máximo ser o mais breve e indolor possível, espero que não tenha sido tão ruim...

Deixo essa como a minha última carta, embora tenha escrito outras, elas são irrelevantes. Apenas relatos de meu (não) dia-a-dia.

Viver não simplesmente respirar. Para viver, necessita-se de um motivo, de um objetivo, e o meu fora tirado de mim a exatos 6 anos. Hermione era o meu motivo.

Não mais a tenho, os Dementadores a levaram de mim.
Em algum momento, provavelmente durante a noite, eles a tiraram de mim!

Sinto-me cada vez mais cansado, e não tenho maior consolo senão a própria morte, apenas ela curará minhas feridas e irá afugentar meus medos. Apenas e tão somente ela.

De alguém que amou e não soube dizer.
Alguém que morreu feliz por um dia, mesmo que a tanto tempo, ter amado.


S. Snape


Hermione terminou de ler às lágrimas, chorava tanto que seu corpo sacudia-se levemente.
Gina tentava consolá-la, mas nada adiantava. Ela perdera seu único e verdadeiro amor para a Morte.

Nesse momento, para ela a Morte seria tão bela quanto uma brisa de outono.
Não doía morrer, a dor ficaria com os vivos. Não, na Morte não havia dor, não havia nada.

Não seria necessário que seus pais dissessem a você que seria apenas uma leve picada da mesma forma como faziam quando você necessitava de vacinas.
Não seria necessário que um anestesista o aliviasse, como para uma cirurgia.
Não seria necessário que ninguém dissesse o que você deveria fazer quando ultrapassasse as barreiras físicas de seu corpo.

Não, você saberia o que deveria fazer e faria da forma correta.

Seu espírito é perfeito, mas seu corpo (imperfeito e falho como tal) o impõe limites. Liberte-se.


* * *


– As cartas foram encontradas junto à ele - um encarregado lhe dissera - Ele as guardava com medo de que pudessem tirá-la dele. Acho que elas devem ficar com a Srta.

E se fora, deixando 3 cartas escritas em uma caligrafia corrida e pequena, e uma Hermione extremamente chorosa segurando-as como se elas fossem seu maior tesouro (e elas eram...).

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