segunda-feira, 11 de abril de 2011

Boneca de Porcelana

Os olhos vazios e opacos, a expressão desprovida de sentimentos. A cópia exata de uma boneca de porcelana - de uma beleza inumana e inatingível, delicada e absolutamente quebrável -.
Ela permanecia em sua embalagem de forma que a poeira e, até mesmo o oxigênio não pudessem tocá-la. Causando inveja e admiração por onde fosse levada, arrancando suspiros exasperados dos homens que tentavam conquistá-la - como um prêmio -.
Ela permanecia impecavelmente bem trajada graças a Alice, já que ela mesma descuidara-se de seus cuidados pessoais, entregando-se cegamente ao leito. Recoberta por um vestido elegante, vermelho como sangue, espelhando-se nos lábios carnudos; enquanto o braço direito pendia debilmente para fora da cama, dando-lhe um ar ainda mais despreocupado.

Ouviram-se sussurros no andar inferior, sussurros esses, que ela não fez questão de dar atenção. Os passos pesados, ecoando no piso de madeira escura e brilhante, os passos cessaram-se e ouviu-se uma batida leve na porta do quarto de Rosalie, tirando-a do torpor que se encontrava, dando lugar à expectativa.
Os olhos levemente esverdeados buscaram os azuis, sentindo o rastro do perfil de Rosalie no ambiente - bonito e vazio, exatamente como ela era e se sentia atualmente -. Os traços sutis da presença sensual e envolvente, os cabelos loiros em contraste harmonioso com o vermelho escarlate dos trajes e dos lábios. O corpo escultural de pele aveludada ansiava por seu toque, implorando para que a possuísse.

***

A vivacidade deixara seu ser a muito, seus pés descalços e sujos galgavam às margens do rio que banhava os terrenos da casa. Nas mãos ela trazia uma rosa, seus dedos passeando pelas pétalas, dando-lhes seus últimos minutos juntos. Os braços musculosos abraçaram-na em sua cintura, puxando-a para o alto, fazendo com que os cabelos esvoaçassem à brisa gélida do brilho da lua.
Sorriu, em muitos anos sorriu, seus olhos refletiam o que seu interior já não mais demonstrava. Seus braços buscando o corpo másculo de Emmett junto ao seu, numa fome insaciável um do outro.

***

Fazia 20 anos que tudo havia ocorrido e ela ainda guardava aquela rosa junto à cabeceira de sua cama. Sempre dormia e acordava tendo seus olhos junto a ela. A decoração predominantemente branca do ambiente iluminava ainda mais os cabelos, agora, branqueados.
– Eu te amo! - ela ouviu de uma voz sôfrega e de um único fôlego. Havia necessidade e urgência no tom, os olhos ainda vívidos tornaram a assumir o aspecto vazio, as pálpebras estáticas e os olhos perdidos em algo distante, algo que somente ela compreenderia em toda sua perfeição e complexidade, pois, somente ela era perfeita, como uma verdadeira boneca de porcelana, de beleza pura e intocável.

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