quinta-feira, 14 de abril de 2011

Leonardo



Ela sentou-se ao computador, meio afobada, meio temerosa. Havia algum tempo que lia alguns contos eróticos na Internet e agora estava "inspirada para tentar". Abriu um novo documento do Word em branco e suspirou, sem saber como começar sua história. Resolveu deixar para depois e escolheu um dos tantos contos favoritados para ler, talvez assim ela conseguisse escrever.

Leu o conto todo, prestando atenção na forma como a autora descrevia suas experiências. Quase sem notar, a jovem Clarissa começou a se imaginar dentro do conto, acompanhando a autora, viajando em suas palavras. Abaixou a janela do computador e repreendeu aquele desejo imenso de se tocar imaginando-se na cena do conto até não poder mais. Esperou o tremor nas pernas passar um pouco e foi fechar sua porta e saber o que irmão e mãe faziam. Talvez não fosse sua hora ainda.

Clarissa era uma garota de recém-completados 19 anos, sem qualquer experiência sexual além de uns amassos na formatura Até dois meses atrás, quando começara a ler experiências alheias em sites especializados para o público adulto. A primeira vez em que se pegara lendo - e além, gostando! - um conto erótico suas bochechas arderam como brasa, mas ela seguira até o fim do conto, com receio, mas seguira.
Suas primeiras leituras foram como visitante, até que algum tempo depois ela se registrara no site e passara a comentar os que mais gostava. Porém, uma coisa a intrigava: será que todos os textos eram verídicos? Será que cada experiência relatada realmente acontecera? E as dúvidas a seguiram perturbando até que recebeu um e-mail de um outro leitor do site.

Conversaram por um tempo e se descobriram morando na mesma cidade - sem se conhecerem, porém -, não demorou para o dito cujo querer conhecê-la. Clarissa, por sua vez, receava que ele pudesse comprometê-la uma vez sabendo sua verdadeira identidade, e após muita insistência, acabou aceitando seu convite. Marcaram de se encontrar num restaurante perto do apartamento dele de tardinha dali há dois dias, sem que ninguém soubesse, claro. A jovem sentira um aperto no peito ao vê-lo, receosa de que ele fosse um maníaco sexual, mas o rapaz - agora, devidamente apresentando, Leonardo - se mostrou até um tanto tímido, passando-lhe segurança.
Papo vai, papo vem, os dois começaram a falar de sexo. Leonardo contou como fora sua primeira vez ainda na escola, entre outras aventuras. Até que perguntou à outra:

– E você? Como foi sua primeira vez? – Clarissa ficou tensa e muda, com vergonha de admitir sua virgindade e até tentou mudar de assunto comentando sobre o tempo, mas os olhos castanhos e fixos do rapaz a fizeram admitir em voz baixa:
– Sou virgem ainda. – Clarissa esperava ser motivo de chacota do rapaz, mas só viu um riso sarcástico. Foi quando ela se deu conta do quão idiota se sentia perante ele e admitindo sua virgindade para um desconhecido. Dizendo algumas coisas sem sentido e se desculpando, saiu do restaurante. Leonardo estava realmente surpreso por aquela reação e até chegou a levantar-se para ir atrás de Clarissa mas ela não lhe deu tempo. Pagou a conta e foi para seu apartamento sem comentar o ocorrido com nenhum dos seus conhecidos que passavam na rua.



* * *


Lá fora estava frio e na ansiedade de de sair de casa, a morena esquecera seu casaco em cima da cama. Dito e feito: mal ela atravessou a rua, começou a chover. O vestidinho verde que escondia seu corpo logo ficou encharcado de água e a maquiagem que sua mãe havia lhe ensinado se desfez tão rápido quanto a chuva começara. Ouviu um carro buzinar ao seu lado e já se virava para xingar o motorista de tarado quando notou que era Leonardo com um olhar preocupado e dizendo coisas sobre ela pegar um resfriado. Ela já ía retrucar quando um raio caiu perto dalí e a fez se desequilibrar e cair de bunda numa poça de água, fazendo os pedetres e Leo rirem, e suas bochechas, corarem.

Leonardo saiu do carro e ajudou-a a se levantar, abriu a porta e fez sinal para ela entrar no carro. Relutante, porém sem alternativas uma vez que perdera junto com sua dignidade, um dos saltos, Clarissa entrou. – Que fique bem claro que só entrei aqui por falta de opções. – disse quando o rapaz entrou no carro. Leo só sorria para a outra. Manobrou o carro e com um 'miado' entrou na pista contrária. – Hei! Para onde estamos indo?! Minha casa fica pra lá!
– A chuva só vai piorar hoje, e se eu for para lá, é possível que não consiga voltar – ele olhou-a nos olhos –, então, nós vamos para o meu apartamento.

Clarissa ficou em silêncio todo o caminho, se esforçando para memorizar cara rua pela qual passavam a fim de que, caso acontecesse algo, ela pudesse escapar e depois denunciá-lo. No fim, após cerca vinte minutos em um trânsito quase parado pela chuva, chegaram a um prédio elegante. Ela de repente se sentiu uma caipira por ter imaginado sua casa como um antro de perversão onde Leonardo levava suas vítimas.

Ele entrou na garagem e estacionou o carro. Parou por um instante, olhando para Clarissa, esta prendia a respiração. – Você vai morrer assim, Clari. – ela já ia perguntar como ele descobrira seu apelido, mas então lembrou-se de que usara-o como nickname diversas vezes. Leonardo desceu do carro e abriu a porta para a morena, que corou um pouco com o gesto. Leonardo então a levou para o elevador e depois de algum tempo os dois estavam em seu apartamento. Ele não mentira ao dizer que era muito bem sucedido, pois nem o apartamento espaçoso nem a mobília sofisticada o permitiam. Clarissa sentiu-se meio deslocada ali, com seu vestidinho verde preferido e cabelo e maquiagem desfeitos. Notando seu desconforto, o rapaz logo procurou levá-la ao quarto de hóspedes dizendo para que se banhasse enquanto ele procuraria algo confortável para ela.
Voltou pouco tempo depois com um moletom cinza de algodão e ficou esperando que ela terminasse o banho. Clarissa, por sua vez, quis demorar o máximo possível, querendo uma desculpa para ir embora e sem encontrá-la. Foi só quando Leonardo bateu na porta perguntando se estava tudo bem que ela notou o quão infantil estava sendo e terminou seu banho de uma vez. Quando ela saiu, ele a esperava sentado na cama com a roupa seca ao seu lado, também sorria para ela. – Achei que você tinha tentado se matar ou algo assim.

– Ah, desculpa, é que... – e ela sentiu-se corada pela enézima vez naquele dia. Fechou os braços em torno de si sem palavras para expor sua vergonha. Leonardo riu e pegou o monte de roupas para entregá-lo à garota. Por um momento seus olhares se cruzaram, mas ela logo abaixou sua cabeça agradecendo-o.
– Ah, achoque seria legal você ligar para casa e avisar que não via poder voltar hoje, por causa da chuva. – e saiu. Quando ela ouviu o clic da porta se fechando, correu para o telefone agradecendo à ele por tê-la avisado. Discou o número da casa boas quatro vezes antes de acertar, seus dedos sempre se atropelavam.

O telefone chamou um bom tempo e quando ela já ia desistir, seu irmão atendeu: – Alô.
– Oi, é a Clari.
– A mãe quer te matar, aham.
– É que...
– E ela me ofereceu chocolate se eu te encontrasse.
– Ah, que seja. Liguei só pra avisar que não volto para casa hoje, por causa da chuva, e... – ela ouviu um clic na linha, interrompendo o que dizia.
– Clarissa Fernandes! Onde a senhorita está? São mais de 11 horas da noite! – a voz aguda da mãe era inconfundível mesmo com a chuva ao fundo.
– Te amo também, mãe. – e desligou.

Quando ela encostou o telefone na base e levantou a cabeça para secar os cabelos, vislumbrou pela janela o imenso volume da chuva, e que Leonardo acertara novamente ao dizer que seria arriscado ir levá-la até sua casa; não só pela chuva, mas também haveria a necessidade de uma explicação sobre onde haviam se conhecido e tudo mais. E ela era uma péssima mentirosa. Vestiu a roupa que o outro lhe entregara e prendeu o cabelo com um elástico que trouxera na bolsa. Respirou fundo algumas vezes para se acalmar e foi em direção à porta, era hora de fazer descobertas.


* * *


Clarissa olhou para o texto em seu monitor, ele estava enorme e riquíssimo em detalhes sobre aquela noite. Sentiu-se uma vadia por contar aquilo à alguém, e como não tinha amigas tão chegadas, resolvera que contar anonimamente era o melhor a se fazer. Ouviu uma batida na porta era sua mãe dizendo:
– Clari, eu e Mario [sic] vamos ao dentista, então já sabe, não atende à porta e se sair, tranca a casa direitinho. – era incrível como a mãe a tratava como criança.
– Sim, mãe, talvez mais tarde, depois que eu terminar o meu trabalho, eu vá dar uma caminhada por ai.
– Aham. Bom, vamos indo, se cuida.

Em seguida ouviu o clic da porta de casa, que por vezes a denunciara nos últimos tempos, e era hora de voltar para o seu relato.



* * *


No apartamento todo tocava uma música instrumental baixa e a luz também estava baixa. Clarissa foi para a sala, na qual Leo se encontrava lendo uma revista sobre carros, sentou-se diante dele.
– Boa noite, Srtª. Estressadinha.
– O quê?- Você ouviu minha conversa?!
– Na verdade, sim, por que ia pedir para levarem suas roupas para a lavanderia o prédio, mas você vai me perdoar. – ele tinha tom jocoso, de quem procura um desafio onde sabe que não haverá; ela se mantinha calada, uma vez que ele estava em sua casa e ela sequer gostava dali. Cruzou as pernas e os braços e ficou olhando para ele, criando um clima pesado no ambiente. Ele a olhava por sobre a revista às vezes, com um meio sorriso nos lábios.

Leonardo era jovem, embora mais velho que ela, tinha 23 anos e trabalhava no ramo da internet e computadores. Tinha o vigor da adolescência num corpo maduro, e já tivera diversas amantes, mas nunca se sentira assim - nem acreditava que um dia se sentiria - em relação à uma mulher. Sim, porque por mais nova que Clarissa fosse, não era mais uma garota com seus 1,60 metro e corpo quase sem curvas.
Ela podia e era, de fato, sem sal quando comparada às outras mulheres que Leonardo conhecia, mas tinha seu charme inocente por trás do cabelo sem corte e das roupas comportadas que usava. Provavelmente, sequer namorou, pensou ele, voltando-se para sua revista. Se ela pudesse respondê-lo, diria que sim, que já tivera um namorado em todos os seus 19 anos de vida, mas ela não podia, então continuou apenas olhando para o outro enquanto ele lia sua revista.

Enquanto o fitava, Clarissa notou que ele estava sem camisa e viu o abdômen definido. Ele era como um daqueles modelos de revista, exatamente como ele se descrevia por e-mail. Isso a lembrou de suas dúvidas a respeito da veracidade dos contos lá inscritos, e quase sem notar, sorriu.
Notando o sorriso travesso que ela tinha, Leonardo abaixou os olhos da revista para a garota, que quase se afogava em tanto tecido tamanha diferença entre os dois corpos. – Perdi a piada?
– Não, é só que... Sei lá, nunca me imaginei nessa situação antes, sendo franca.
– Como assim? Com um 'moreno, bonito e sensual' como eu?
– OK, humildade passou longe, mas sim. – e Leo voltou para sua revista, ignorando as ironias da outra, e Clarissa, para suas observações. Já passava da meia-noite, mas ela não tinha sono - ou não queria ter? - com medo de que ele pudesse tentar forçá-la à algo. Tentou manter-se acordada, mas pouco depois da uma da manhã ela dormiu, olhando-o.

Acordou tempos depois quando Leo a carregava para o quarto. Clarissa notou que ele tinha um cheiro maravilhoso, de homem, não como os que seu pai ou tios usavam, era diferente. Sem notar, ela continuou 'dormindo' enquanto sentia-o cuidadoso para não acordá-la. Leonardo a levou para o quarto e quando a deixou obre a cama, sentiu que ela acordara, ouviu um sorriso sapeca e olhou para ela. Seus enormes olhos avermelhados de sono pareceram brilhar. – Vem cá.
– Olha que eu posso ser mau...
– Não me importo com isso. – e meio hesitante, o beijou.

Foi um beijo desajeitado pela posição, mas foi correspondido por ambos. Só se separaram quando era realmente necessário respirar. Ela parecia linda com o cabelo úmido e olhos sonolentos. Leonardo tirou a camisa do moletom e olhou para seus seios, que não eram grandes, mas cabiam perfeitamente em suas mãos. Notou-a corar e sorriu beijando suas bochechas. Tomou-a num abraço e terminou de se livrar da própria roupa – Tem certeza disso? Não quero te forçar a nada – ela só assentiu e se entregou àquele que seria seu primeiro amor de verdade.
Aos poucos a vergonha cedeu lugar ao desejo e às sensações que Clarissa descobria. Foi um momento rápido, e entre beijos ela sequer notou a ruptura de seu hímen. Ela incrível como ele sabia onde tocar para despertá-la, e nisso ela teve vários orgasmos antes de, de fato, perder sua virgindade.

Na manhã seguinte Clari acordou sorridente com Leonardo a observando. Ainda chovia.



* * *


Clarissa suspirou, a primeira de muitas histórias estava enfim pronta. Levantou-se e saiu do quarto para beber água, no caminho olhou para o relógio e pensou que sua mãe devia ter acabado de chegar ao dentista. Certamente daria tempo para uma 'caminhada' antes de alguém chegar em casa. Voltou para seu quarto e e salvou o documento para depois publicá-lo no site como seu primeiro conto, em seguida pegou o celular e discou um número rápido. O telefone foi atendido na primeira chamada.

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